" ...Também
é um pequeno mundo que acaba quando o relógio do avô quebra engolindo um tempo
que não volta mais, quando vendemos nossos brinquedos de infância para um
colecionador para pagar a conta do colégio do filho ou quando olhamos para
aquele grande amor que agora lê jornal no sofá da sala e já não o reconhecemos.
Ou quando é o outro que já não nos reconhece e duvidamos da nossa capacidade de
continuar acordando e dormindo sem nos enxergarmos refletidos no olhar daquele
que partiu para refletir outras faces. Ou quando descobrimos que o pai da
infância não é nem um herói, nem um tirano, mas um homem – ou a mãe é menos
sagrada do que nos fizeram acreditar, mas uma mulher cheia de contradições como
todas as outras. E ainda não sabemos que estas são boas notícias. É um pequeno
mundo que acaba quando ouvimos que a empresa já não precisa de nossos serviços
porque há alguém com mais MBAs, mais idiomas, mais juventude e que custa mais
barato que nós. É ainda um pequeno mundo que acaba a cada morte de quem amamos,
nos deixando às tontas por aí, sem saber como se faz para transformar falta em
ausência.A cada um desses pequenos apocalipses temos a chance de
recomeçar. Partidos, aos pedaços, às vezes colados como um Frankenstein de
filme B. Enquanto o meteoro não chega há sempre um possível que podemos
inventar. Se os anúncios de fim do mundo servem para alguma coisa, além de
fazer piadas e encher os bolsos de alguns espertos, é para nos lembrar de que o
mundo acaba mesmo. Não em apoteose coletiva, com dia e hora determinados, mas
na tragédia individual, sem alarde e sem aviso prévio, que desde sempre está
marcada na vida de cada um de nós...." Eliane Brum - Época 24/12/2012
A última ceia
Hoje é um bom dia (veja isto também)
Garota medalha
Melancolia
Noite Infeliz - FSP Ilustrada 25/12/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário