Duas Coisas
Ainda. O mesmo arrependimento tardio e
inevitável. O de nunca ter dito algumas coisas a você. Verdades nunca podem ser
subentendidas. Têm de ser sempre esclarecidas.
Eu nunca tive esse tipo de coragem, aliás ...
O que quero dizer é: não posso deixar que esse
fim, esse triste e melancólico fim, me atormente por muito tempo. Ando
invejando a solidão dos santos, loucos e beatos. Meu rumo (que já não era
grande coisa) foi-se. O pouco que me resta de ideais, sonhos, e essas coisas
que nos perseguem por grande parte da vida, apagou-se numa névoa de dúvidas e
de uma tristeza onipresente.
Perdi minha prepotência (que já era pouca e
ineficiente), ando mais covarde que nunca, sempre desejando algum fim (o fim de
uma estrada: mas que estrada, caralho?!), o fim de algo. Sou um homem cansado
de tal busca e não vivo sem ela, como se essa tolice chamada busca fosse algo
que me valesse, que me desse uma vã alegria (todo que é vão é belo,
despropositado; repousa num patamar impossível para merdinhas como eu). Um
pouco de superioridade é o que preciso. Olhar para frente. Apagar, de qualquer
maneira, o que te fiz. Um pouco de paz. E que essa névoa que paira sobre minha
casa (meu único refúgio) suma.
Depois do choro, nunca o alívio. Mesmo no dia
(último dia) em que você foi embora em mais uma despedida definitiva (a cena se
repetia e se desgastava feito uma reprise vespertina). O que me restou disso
tudo, além de uma crença, talvez idiota, de que posso escrever para leigos
cegos.
Uma impressão. A de que em algum momento do meu
passado preto-e-branco, deixei minha vida quando vi algo bastante sedutor num
livro. Ali, depois de ter lido algumas linha perversas (e sedutoras como uma
canção do Tom Waits), deixei de ser o que realmente sou, tornei-me um corpo
inabitado. Sempre buscando completude.
Dessa forma, ainda espero te dizer duas coisas:
eu te amo, e foda-se.